O critério decisivo

 

Na medida em que, como católico, a nova situação da Igreja me diz respeito, tendo mais e mais a descartar até mesmo alguns sinais positivos transmitidos pelo novo pontífice oficial em alguns pontos de moralidade, como por exemplo sua crítica do homossexualismo e do chamado “casamento gay”. Isto é relevante, sim, mas pouco  significa em comparação com a questão infinitamente mais importante, e realmente decisiva, que é sua posição acerca das ideias erradas e das falsificações do Concílio Vaticano 2 -- ideias estas que, traduzidas e postas em prática mediante a nova liturgia dos Sacramentos, desvirtuaram e corromperam os ritos revelados.

Creio que a chave filosófica da questão foi antevista, muito antes do concílio, quando o grande René Guénon escreveu, em seu clássico ‘A Crise do Mundo Moderno’:
Qualquer compromisso entre o espírito religioso e a mentalidade moderna enfraqueceria o primeiro e beneficiaria somente a segunda, cuja hostilidade não seria em nada diminuída por isto, dado que o modernismo tem como objetivo a total aniquilação de tudo o que, na humanidade, reflete uma realidade superior a ela.

Genial, não é? Pois é, este é o ponto crucial. Pois a ideologia do Vaticano 2 é justamente a de favorecer e realizar um “compromisso” (aggiornamento) da Igreja com a mentalidade relativista, individualista e materialista da modernidade. Assim sendo, os critérios decisivos do “pensamento correto”, ou ortodoxia, implicam em saber qual a posição de Francisco acerca do  modernismo na Igreja, sobre suas sequelas tanto na doutrina como nos rituais da religião que ele alegadamente agora lidera. Todo o resto é perfumaria.

Infelizmente, eu não estou vendo qualquer sinal de que F1 inclua em seu horizonte confrontar este desafio decisivo -- que comprovaria, ademais, para além de qualquer ambiguidade, sua ortodoxia doutrinal e sua ortopraxia ritual. Este é o ponto fundamental que devemos nos perguntar, o resto é perfumaria.  

Em síntese, e como o grande William Stoddart apontou, F1 tem opiniões corretas acerca de algumas questões morais, e ele parece ser um homem humilde; bom para ele. Mas tais opiniões não têm nenhum interesse quanto ao desdobramento cósmico dos eventos. F1 segue na linha dos cinco não-papas modernistas anteriores. O único critério decisivo nesta matéria é se ele rejeita o Vaticano II e todas as suas obras. Nada indica até aqui que ele fará isto, que confrontará aquilo que podemos chamar de o “Bezerro de Ouro” da nova igreja – “ídolo” em torno do qual uma multidão de almas canta e dança em adoração infrarracional.

MSA
 S. Paulo, março 2013